17 de jun. de 2012

História do Ramo Sênior no Brasil


      Baden-Powell, quando fundou  o Escotismo, criou  somente os Ramos Lobinho, Escoteiro e Pioneiro   e estes foram os três ramos implementados inicialmente no Brasil.
     Assim permaneceu durante vários anos, quando no início da década de 40 o Chefe João Ribeiro dos Santos, pertencente à Associação Escoteira Guilhermina Guinle – Fluminense F. C. (atual 1º - RJ GE João Ribeiro dos Santos), percebe a necessidade de criar um ramo que dividisse o Ramo Escoteiro. Esta necessidade surge devido à longa duração deste ramo, que comportava jovens entre 11 e 18 anos, possibilitando assim serem notadas disparidades físicas e intelectuais entre os escoteiros.
     Pesquisando sobre o assunto, Dr. João descobre que nos EUA já existia um ramo solucionando este problema, denominado de Senior Scouts. Pediu então autorização a UEB para implementar este ramo em seu grupo escoteiro. Logo, em 20 de novembro de 1945 foi criada a Tropa Senior do 1º-RJ - GE Guilhermina Guinle – Fluminense F.C., a primeira Tropa Senior do Brasil.
     A UEB começou então a regulamentar o Ramo Senior, que utilizava na passadeira de seu uniforme um debrum marrom.
     As etapas deste ramo eram uma seqüência das do Ramo Escoteiro, por exemplo: se o garoto chegou a Segunda Classe no Ramo Escoteiro, ao passar para o Ramo Senior, já inicia como Segunda Classe e passa diretamente ao adestramento de Primeira Classe.
As especialidades do Ramo Senior eram uma ampliação das do Ramo Escoteiro. Para ser especialista no Ramo Senior era necessário conquistar primeiro a especialidade equivalente no Ramo Escoteiro e complementar com alguns itens.
     O adestramento dos dois ramos permaneceu contínuo até os anos de 1975/1976, quando foi autorizada a criação de etapas diferenciadas para o Ramo Senior. Foi, então, criada a Investidura Senior e as etapas foram simplificadas de forma a facilitar esta investidura, foram alterados os nomes das etapas para os nomes atuais: Estágio Probatório, Eficiência I , Eficiência II. O Escoteiro da Pátria já existia, só que para o Ramo Escoteiro, passou então a ser vinculado ao Ramo Senior e a Lis de Ouro foi criada para substituí-lo no Ramo Escoteiro. Nestas novas etapas havia uma adaptação maior à faixa etária do senior (14,5 a 18), possibilitando opções de escolha de itens nas etapas, além de pesquisas. A cor do Ramo Senior mudou então de marrom, sua cor inicial, para grená, como é até hoje.
     Podemos concluir dizendo que esta experiência elaborada por João Ribeiro dos Santos foi de grande valia e é sucesso até hoje no cenário escoteiro nacional, é importante ressaltar ainda que o Brasil foi um dos primeiros países a implementar este ramo e que baseados em nossa iniciativa vários países puderam fundar ramos correspondentes em seus territórios.




Chefe João Ribeiro dos Santos


Nascido em 18 de junho de 1910, seu primeiro contato com o Escotismo foi por meio do Almanaque Tico-Tico quando era jovem, entretanto, sua mãe não autorizou sua participação e tudo ficou nos seus sonhos.

João cresceu, tornou-se médico e também estudou Educação Física. Já estava com 29 anos quando foi convidado a participar como médico da Delegação Nacional Escoteira que partiria do Rio de Janeiro rumo aos estados do sul. Foi o início de uma paixão que durou 30 anos até sua morte em 19 de março de 1970 com 59 anos. Amava a natureza e formou-se Guia de Montanhismo pelo CERJ-Centro Excursionista Rio de Janeiro.
João Ribeiro dos Santos, o nosso Dr. João, era cativante com a sua alegria e conhecimento sobre quase todos os assuntos que se possa imaginar, daí sua conversa ser de interesse do Lobinho ao Pioneiro, envolvendo também os Chefes, os Pais e Membros da Comunidade.
O grande exemplo dado por ele ao longo de sua vida foi Servir. Servir ao próximo, à Comunidade, ao País realizando ações desprendidas de interesse que não fosse atender ao próximo. Ele foi apaixonado pela juventude e pela vida. Ensinou aos jovens a associar aventura com responsabilidade, e, individualidade com coletividade.
Disciplinado e firme nos Princípios Escoteiros foi um exemplo, sendo também profundamente atualizado e integrado nos novos tempos sem, entretanto, perder os objetivos da missão escoteira. Tinha muitas vezes tiradas espirituosas como esta que ocorreu num dia do ano de 1967 em que Diretores da cúpula da UEB questionavam os cabelos longos de quatro jovens escoteiros que apareciam numa foto de propaganda escoteira. “Eu me preocupo com o que os jovens têm dentro da cabeça e não fora dela”.
Foi Chefe de Grupo da Associação Escoteira Guilhermina Guinle do Fluminense Futebol Clube, na Cidade do Rio de Janeiro, sendo nomeado para este cargo, em janeiro de 1942. Como havia percebido que a Tropa de Escoteiros tinha uma faixa etária muito longa (11 a 17 anos) e que os interesses dos jovens eram muito diversificados pela idade, estudou o assunto e verificou que na BSA, nos Estados Unidos, existia o Ramo Sênior para jovens de 15 a 18 anos, Dr. João solicitou à UEB a autorização para dirigir em 1945, a primeira Tropa Sênior do país no 1º GE Guilhermina Guinle, no Rio. Devido ao sucesso alcançado o Ramo Sênior se expandiu por todo Brasil. A UEB instituiu, após sua morte, que o Dia do Sênior e Guia passasse a ser 18 de junho – dia do aniversário de João Ribeiro.
Dr. João ocupou muitos cargos na UEB dando sua contribuição criativa e serena para os problemas que inevitavelmente surgiam. Em 1950 fez parte da Comissão da UEB para elaborar seu Estatuto. Em 1953 apresenta a primeira tradução brasileira do texto inglês do P.O.R. Preparou junto com o Chefe Orestes Pero, a Memória da 4ª Conferência Escoteira Interamericana, em 1957, no Rio de Janeiro. Participou do 9º Jamboree Mundial e da Conferência Mundial na Inglaterra em 1957, nesta, como Chefe da Delegação Brasileira.
Foi Comissário Nacional de Adestramento, participando da 2ª Conferência do Hemisfério Ocidental da Equipe Internacional de Adestramento na Jamaica, em 1958, e da 3ª Conferência em Canela, RS, eventos dirigidos por John Turmann, Chefe de Campo de Gilwell Park.
Em 1961, na 5ª Conferência Escoteira Interamericana, na Venezuela, apresentou o tema “Os Dirigentes Adultos no Movimento Escoteiro” que foi publicado sob forma de livro em espanhol e português. Esse livro foi revolucionário em termos de seu excelente e objetivo conteúdo, propondo inclusive soluções para um dos mais sérios problemas do Escotismo – o seu financiamento, e é uma referência até hoje.
Em 1978, foi designado um dos três primeiros Adestradores Eméritos da UEB. Em sua homenagem, o Campo Escola Saint Hilaire em Porto Alegre, que foi sede de muitos eventos e cursos históricos do Escotismo gaúcho, brasileiro e interamericano foi denominado Campo Escola Dr. João Ribeiro dos Santos.
Foi Escoteiro Chefe de abril de 1962 a maio de 1965 tendo respondido pela Presidência da UEB no final de 1963. Foi também Comissário Nacional de Lobinhos e de Pioneiros, sendo que neste cargo incentivou a Coeducação, conseguindo que o 1º GE/RS Georg Black tivesse autorização para receber moças como Pioneiras, o que ocorreu em 11/08/1968. Nomeado, em 1967, Diretor de Publicações da UEB e Redator Chefe da revista “Sempre Alerta”, fez traduções de vários livros tais como a série “Opiniões de Delta”, “Outras Atividades de Patrulha”, “A Evolução do Conceito de Liderança”, “Novos Métodos Escoteiros na França”. Foi um período de farta literatura escoteira. É importante lembrar que foi o Dr. João quem emprestou dinheiro à UEB para comprar uma impressora de segunda mão para reproduzir todos os novos livros. Após sua morte, a UEB quis ressarcir à família de JRS pelo empréstimo, mas a mesma não aceitou, fazendo do seu valor uma doação à UEB.
Dr. João tinha o dom de criar letras escoteiras para canções e hinos populares, assim como também compor música sem saber teoria musical. Valia-se de amigos como Zalex Suffert e Margarida Quintão, esposa de seu grande amigo e membro do Escotismo Walter Quintão.
Eis algumas dessas letras: “Fraternidade” – Hino do 1º GE/RJ ”(um primor de letra que revela a grande aventura e desafio de ser escoteiro. Música: Trevo de Quatro Folhas),“Panelas”, Canção do Lobinho 1 (música: Cisne Branco),Canção do Lobinho 2 (música: Canção do Soldado), 7 Escoteiros Fantasmas(música: Marcha Fúnebre de Chopin). Letras e Músicas de sua criação: II Ajuri Nacional (a mais conhecida), Canção do Sênior, Jamboree Panamericano,Temos 15, 16, 17 anos, Canção do Preguiçoso, Dá-nos Fogo.
João Ribeiro foi aluno do primeiro Curso da Insígnia de Madeira no Brasil, em 1949, sendo o quarto brasileiro a receber a IM (Ramo Escoteiro); posteriormente, conquistou também a IM do Ramo Lobinho. Cursou o 1º TTT realizado no Brasil, foi ADCC e foi DCC ( Deputado Chefe de Campo) em 1957, e AKL ( Akelá Líder). JRS dirigiu inúmeros cursos pioneiros no Brasil, como, por exemplo, os primeiros CAPs para Chefes de Grupo, para Comissários e para Chefes de Sêniores.
Recebeu as seguintes Condecorações Escoteiras: Medalhas: Bons Serviços Bronze e Prata, Tiradentes, Cruz de São Jorge, Gratidão Ouro e Tapir de Prata.
Seu primeiro Grupo – 1º GE Guilhermina Guinle, no Rio, desde sua morte adotou o seu nome tornando-se 1º GE/RJ João Ribeiro dos Santos como lembrança desse grande escoteiro, grande amigo e grande cidadão.
Impossível não esquecer a obra de João Ribeiro dos Santos que ultrapassou o 1º Grupo Escoteiro RJ, a Região do Rio de Janeiro, o Brasil e chegou a vários outros países sendo lembrado por todos mesmo depois de ter voltado ao ponto de reunião.

Autores: Rubem Suffert, Luiz Paulo Carneiro Maia e Pedro Wilson Leitão Filho
Pessoas que conviveram, respeitaram e amaram esse grande amigo.
Revisada e complementada por Antonio Boulanger U. Ribeiro.



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