Quem nos conta é Floriano Reis, que participou da atividade: “O tempo andava ameaçador, chovia com pequenas intermitências de sol, mas isto não abrandava o entusiasmo dos oito elementos de nossa pequena tropa que desejava ainda uma vez demonstrar empenho em cumprir ordens para educação física, sob o tema – raid.
Com as tinturas de língua inglesa hauridas nas aulas do externato Aquino, discutimos sobre a impropriedade de dizer-se “Raid of Boys Scouts”, porque a cavalaria chamava a si a primazia e o privilégio do uso do termo, não admitindo que infantes fizessem um raid.
O fato é que nos reunimos à noitinha, defronte do Teatro Municipal, a despeito da umidade e da incerteza do tempo vindouro.
O nosso pequeno grupo fardado com o material inglês, chegado pelo destróier “Alagoas”, despertou a atenção dos circunstantes e transeuntes daquela época (1910); muita gente deve viver para recordar esse fato; a todos dizíamos de nosso objetivo: - marcha de treinamento até a estação de Rio das Pedras, onde pernoitaríamos.
Chefiava o grupo de boy-scouts o sargento-armeiro Amélio Azevedo Marques, que além de se encarregar do roteiro, etapas, rancho e o mais, ainda era o portador da pequena ambulância para socorros de urgência.
Como monitor contribuía Aurélio Azevedo Marques, o primeiro brasileiro que vestiu uma farda de escoteiro e que já participara de uma concentração na Inglaterra, na cidade de New-Castle-on-Tyne (hoje se escreve: Newcastle-on-Tyne, e lá foram construídos alguns dos navios comprados pela Armada Brasileira - Veja a História clicando aqui). Era o mais experiente, portanto. (Correção nos nomes e descrições feitas por Rubem Süffert)
Cantou-se, quando em forma o ‘Tipperary’, em suas palavras originais e em movimento, até que se passou a caminhar em passo de poupança, sem cadência.
Após os repousos essenciais, cerca de uma hora da madrugada chegamos à desejada meta, pouso final, uma chácara onde havia nutrido pomar.
Armou-se a barraca no alpendre devido ao tempo duvidoso e nos entregamos ao desejado sono apesar de cada hora, um de nós dar sentinela no campo.
Um belo cão fez-se nosso aliado, o que nos encorajava na ronda noturna.
Como experiência foi-nos muito proveitoso pois apesar de nossa pouca idade, respeitávamos com boa dose de probidade o pomar que nos acolhia e ao mesmo tempo nos provocava com seus ubérrimos frutos.
Foram feitas demonstrações de socorros a feridos, pensos e curativos simulados, adestramentos, tudo em homenagem ao anfitrião.
Antes que regressássemos pela via férrea, fomos ver o célebre pau-ferro de Maxambomba, símbolo inesquecível da majestade e fortaleza da selva.
Realizou-se, assim, no ano de 1910, o primeiro raid de escoteiros no Brasil.”
A divulgação dessa atividade, após 100 anos de sua realização, faz parte das homenagens ao Centenário do Escotismo Brasileiro, e essa foi uma excursão da qual nossos atuais Escotistas e escoteiros devem ter notícias.
Autor: Rubem Süffert
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SAPS!